Trump, não gosto muito de viajar para os EUA, é meio chato, mas confesso que tem coisas que valem a pena, gosto de ir aos bairros negros de Washington, lá vi toda uma briga na capital dos EUA entre negros e latinos com barricadas, o que me pareceu uma estupidez, porque deveriam se unir.
Confesso que gosto de Walt Withman e Paul Simon e Noam Chomsky e Miller.
Confesso que Sacco e Vanzetti, que têm o meu sangue, na história dos Estados Unidos, são memoráveis e os tenho como predecessores. Eles foram assassinados na cadeira elétrica como líderes operários, pelos fascistas que estão dentro dos EUA como também do meu país.
Não gosto do seu petróleo, Trump, vai destruir a espécie humana por ganância. Talvez um dia, com uma dose de whisky, que aceito, apesar da minha gastrite, possamos conversar francamente sobre isso, mas é difícil porque o senhor me considera uma raça inferior e eu não sou, assim como nenhum colombiano é.
Então, se conhece alguém teimoso, esse sou eu, ponto final. Com a sua força económica e arrogância, pode tentar dar um golpe de Estado como fizeram com Allende. Mas eu morro na minha lei, resisti à tortura e resisto a você. Não quero escravocratas junto da Colômbia, já tivemos muitos e nos libertamos. O que quero com a Colômbia são os amantes da liberdade. Se o senhor não puder me acompanhar, irei para outro lugar. A Colômbia é o coração do mundo e o senhor não entendeu, esta é a terra das borboletas amarelas, da beleza de Remedios, mas também dos coronéis Aurelianos Buendía, dos quais sou um deles, talvez o último.
Irá me matar, mas eu sobreviverei no meu povo que é anterior ao seu, nas Américas. Somos povos dos ventos, das montanhas, do Mar do Caribe e da liberdade.
O senhor não gosta da nossa liberdade, ok. Eu não aperto a mão de escravocratas brancos. Aperto a mão dos libertários brancos herdeiros de Lincoln e dos rapazes camponeses negros e brancos dos Estados Unidos, em cujos túmulos chorei e rezei num campo de batalha, ao qual cheguei, depois de caminhar pelas montanhas da Toscana italiana e de me salvar da covid.
Eles são os Estados Unidos e diante deles eu me ajoelho, e de mais ninguém.
Derrube-me presidente e as Américas e a humanidade o responderão.
A Colômbia agora deixa de olhar para o norte, olha para o mundo, o nosso sangue vem do sangue do Califado de Córdoba, da civilização daquela época, dos romanos latinos do Mediterrâneo, da civilização daquela época, que fundou a república, a democracia em Atenas; nosso sangue possui os negros resistentes transformados em escravos por vocês. Na Colômbia está o primeiro território livre da América, antes de Washington, de toda a América, lá me refugio em suas canções africanas.
A minha terra é da ourivesaria existente na época dos faraós egípcios, e dos primeiros artistas do mundo em Chiribiquete.
Nunca nos dominará. Contrapõe-se o guerreiro que cavalgou nossas terras, gritando liberdade e cujo nome é Bolívar.
Nossos povos são um tanto temerosos, um pouco tímidos, são ingênuos e gentis, amorosos, mas saberão conquistar o Canal do Panamá, que vocês nos tiraram com violência. Duzentos heróis de toda a América Latina jazem em Bocas del Toro, atual Panamá, antiga Colômbia, assassinados por vocês.
Eu levanto uma bandeira e como disse Gaitán, mesmo que fique sozinho, ela continuará hasteada com a dignidade latino-americana que é a dignidade da América, que o seu bisavô não conheceu, mas o meu sim, Senhor Presidente, imigrante nos Estados Unidos.
Seu bloqueio não me assusta; porque a Colômbia, além de ser o país da beleza, é o coração do mundo. O que ama a beleza como eu, não a desrespeite e ela lhe dará sua doçura.
A COLÔMBIA ESTÁ ABERTA AO MUNDO TODO A PARTIR DE HOJE, DE BRAÇOS ABERTOS, SOMOS CONSTRUTORES DE LIBERDADE, VIDA E HUMANIDADE.
Informam-me que o senhor colocou uma tarifa tributária de 50% sobre o fruto do nosso trabalho que for entrar nos EUA, eu faço o mesmo. Que nosso povo plante o milho que foi descoberto na Colômbia e alimente o mundo.
Gustavo Petro
Presidente da República da Colômbia (2022-2026)
(Texto original publicado no Twitter: @petrogustavo em 26 de janeiro de 2025.
Tradução: Lina Noronha)