Por que o chefe do Pentágono vem ao Panamá?
Esta segunda-feira 7 de abril, chega ao Panamá o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth. O chefe do Pentágono chega tendo como contexto o pedido de Trump de obter o Canal de Panamá, por bem ou por mal.
Diante disso e ante a alta responsabilidade histórica que nos cabe, decidimos trazer os seguintes fatos ao conhecimento do povo panamenho e da comunidade internacional, para análise deste momento histórico:
1. O mundo tem sido testemunha das ameaças de Donald Trump, de apoderar-se do Canal do Panamá, baseado em uma série de mentiras, que ele continua repetindo de forma insistente, sendo a principal delas a de que a China praticamente controlaria militarmente o Canal e que incide de forma dominante na política interna do Panamá.
2. O governo de Mulino respondeu indignamente, cedendo em quase tudo: subordinou-se à política migratória dos Estados Unidos, abriu, pela Controladoria, um processo de auditoria a Panama Ports, não para defender os interesses nacionais, senão para justificar a transferência dos portos para as mãos dos Estados Unidos ou de uma de suas empresas; retirou o Panamá de importantes acordos com a China no marco da Rota da Seda e outros pactos bilaterais; entregou ao Comando Sul a segurança cibernética do Canal e foi permitindo paulatinamente a entrada de tropas ianques, algumas das quais já se podem observar em hotéis da localidade.
3. Apesar disso, longe de suavizar seu discurso e ações contra o Panamá, Trump endureceu sua posição, ameaçando tomar pela força o Canal, alegando violações do Panamá ao mal chamado Pacto de Neutralidade. Além disso, tendo de joelhos o governo de Mulino, que foi seu principal cúmplice em seus planos tortuosos, impôs 10% de taxas aos produtos do Panamá, de maneira unilateral, violando inclusive o já vergonhoso Tratado de Livre Comércio (TLC) ou Tratado de Promoção Comercial (TPC), que se recusa a renegociar, como pedem os arruinados setores produtivos do país, sendo que a sua revisão está prevista para este ano.
4. Em 13 de março passado, o governo de Trump solicitou formalmente ao Pentágono “Proporcionar opções militares factíveis, para garantir o acesso militar e comercial justo e sem restrições dos EUA ao canal do Panamá”.
5. Nesse sentido, John Ullyot, porta-voz do Pentágono, reiterou que não há mudanças anunciadas, mas destacou que os Estados Unidos estão trabalhando com o Panamá em exercícios militares programados ao logo do ano, com o objetivo de “fortalecer a relação de segurança entre os dois países”.
6. Antes, em 5 de fevereiro, segundo informou a Embaixada dos Estados Unidos no Panamá, o secretário de Defesa, Pete Hegseth, realizou uma chamada telefônica com o presidente do Panamá, José Raúl Mulino, “ambos concordaram quanto à sólida relação e os numerosos interesses de segurança compartilhados pelos Estados Unidos e Panamá, incluindo a salvaguarda do Canal do Panamá. O secretário Hegseth e o presidente Mulino também acordaram ampliar a cooperação entre as forças militares dos Estados Unidos e os órgãos de segurança do Panamá”.
7. Em 4 de fevereiro, um dia antes da chamada a Mulino e apenas dois dias depois da visita do secretário de Estado, Marco Rubio, ao Panamá, Hegseth ligou para o ministro de Segurança, Frank Ábrego. Segundo o resumo publicado pela Embaixada dos Estados Unidos no Panamá, “o secretário Hegseth destacou que sua prioridade máxima é salvaguardar os interesses de segurança nacional dos Estados Unidos, sob a liderança do presidente Trump, o que inclui garantir o acesso sem restrições ao Canal do Panamá e mantê-lo livre de interferências estrangeiras. Tanto ele, como o ministro Ábrego, reafirmaram o compromisso de ambos os países na defesa do Canal e acordaram ampliar a cooperação entre as forças militares dos Estados Unidos e as forças de segurança do Panamá”. Quem deu tal autorização e prerrogativas ao ministro Ábrego?
8. O que Hegsteh destaca, na verdade, é que não é necessário o uso da força para atingir seus propósitos, porque existem no Panamá setores armados e um governo e autoridades lacaios fiéis aos interesses dos Estados Unidos. E o que temos visto nestes dias é a distribuição de mochilas por efetivos do exército estadunidense com a polícia panamenha, incluído seu diretor, Jaime Fernández, em colégios do país, com símbolos híbridos, metade com a bandeira dos Estados Unidos e a outra metade panamenha, e o anúncio da celebração de um concerto do exército dos EUA no Centro Histórico, apoiado pelo prefeito vende-pátria Mayer Mizrachi.
Ante esses fatos, é nossa obrigação moral denunciar o seguinte:
1. Estão elaborando um tratado para estabelecer quatro bases militares ianques no Panamá, a saber:
a. Uma base naval no Pacífico, a Vasco Núñez de Balboa, em Rodman.
b. Uma base naval no Atlântico, a de Coco Solo.
c. A base área de Howard (Panamá Pacífico).
d. Uma base em Darién.
2. Trata-se de uma operação em grande escala que, além de numerosas tropas, envolve obras de infraestrutura militar e introdução de grande quantidade de armamento, equipamentos, navios, aviões, helicópteros etc. de alta tecnologia.
3. O acordo foi elaborado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos, para sua aprovação no Panamá, em inglês, sem tradução ao espanhol.
4. Criou-se uma equipe interinstitucional, para tentar dar a esse acordo uma base jurídica que impeça que este chegue à Assembleia Nacional, como a Constituição prevê para convênios dessa natureza. A representante pelo ministério de Segurança é a ex-promotora Argentina Barrera, hoje diretora de Assuntos Jurídicos do referido ministério.
5. A chegada ao país, na segunda-feira 7 de abril, do secretário de Defesa, Pete Hagseth, um ultradireitista, ultranacionalista, da supremacia branca, é para formalizar o referido acordo.
6. Em sua última entrevista coletiva, Mulino deu algumas pistas, ao afirmar que, de fato, pode ser firmado um acordo de cooperação, sob pretexto do combate ao narcotráfico, da crise migratória, ou por temas de segurança, como ocorreu antes.
7. Para mascarar esse tratado, que busca garantir a presença massiva de tropas ianques de forma permanente, alega-se a realização de treinamentos e exercícios conjuntos a longo prazo com os órgãos de segurança panamenhos em todo o país, dentro de um processo contínuo de remilitarização.
8. Explora-se a possibilidade de que o acordo final seja firmado no Panamá, em data por anunciar, entre Trump e Mulino, como uma mostra do poderio ianque e uma vitória em seu enfrentamento com a China.
É por isso que:
1. Repudiamos a atitude entreguista do governo de Mulino, que rejeitou o apoio internacional, afirmando que não necessitava de companheiro de viagem, sabendo que ninguém o acompanharia para afundar nas águas turvas e profundas da ignomínia e da traição.
2. Exigimos de Mulino a divulgação em espanhol, tanto dos acordos a que chegou com Trump, como do pactado por Frank Ábrego.
3. Pedimos a solidariedade internacional dos povos do mundo e dos governos progressistas, democráticos e revolucionários.
4. Conclamamos à luta e à mobilização popular em defesa da nossa soberania nacional.
5. Repudiamos a presença de Pete Hegseth no Panamá.
No ano do centenário do movimento dos inquilinos, que o exército ianque arrasou a sangue e fogo, contra o injusto e arbitrário aumento dos aluguéis dos quartos que os trabalhadores ocupavam, não podemos permitir essa grave afronta à Pátria. Tanto sangue derramado por nossos heróis e mártires, no curso da nossa história, pela dignidade e a soberania nacional não pode ser em vão. Todos os que se prestaram para humilhar dessa maneira o Panamá devem ser julgados por traição à Pátria.
Dado na cidade do Panamá, aos 3 dias do mês de abril de 2025.
FRENADESO – FRENTE NACIONAL POR LA DEFENSA DE LOS DERECHOS ECONÓMICOS Y SOCIALES
(Tradução: Márcia Choueri)
Quer saber mais sobre o Panamá e as agressões do Imperialismo a esse país ao longo da história?
Conheço nosso lançamento
Panamá – dezembro de 1989: não temos o direito de esquecer
Do diplomata cubano Lázaro Mora
Tradução de Márcia Choueri
Livro físico: envie um e-mail, com seus dados de envio, número de whatsapp, e o recibo do pix para projetonossamerica@gmail.com
O pix é o mesmo e-mail.
Até 5 de abril, com frete grátis para todo o Brasil. Preço: R$ 62,00
Para a versão e-book, acesse a Amazon: https://a.co/d/iaSOMWk
